terça-feira, 3 de agosto de 2010

Pousada de Ourém - Restaurante


A pequena vila merece um fim-de-semana sem pressas. Situada no alto, sobranceira à cidade de Ourém, possui todas os ingredientes para dois dias de descanso, em imersão total: um castelo com pormenores e histórias suficientes para captar a atenção por um par de horas, um burgo de casas bem conservadas de traça medieval, um tempo que parece escoar-se mais lentamente e uma pousada simpática, com um restaurante honesto.


Um restaurante com algumas propostas que vale a pena experimentar.

Criadas em plena euforia nacionalista, às Pousadas de Portugal competia, na óptica dos seus criadores, ser para os seus hóspedes, o espelho da região que os acolhia. Foi, por isso, apanágio dos seus restaurantes, representar o que de mais pretensamente genuíno a gastronomia local apresentava, devidamente enquadrado por rigorosos critérios de competência e rigor.

Nestes quase setenta anos de história, apesar da natural erosão de costumes, das revoluções sociais e culturais, das crises económicas e de valores, manteve-se esta constante: uma refeição no restaurante de uma destas Pousadas é sinónimo de qualidade. Foi assim com esta certeza que entrámos na sala de refeições desta unidade de Ourém.

(fonte: site das Pousadas de Portugal)
Sala despojada, com mobiliário de linhas sóbrias mas ergonométricas quanto baste (o apoio lombar das cadeiras é um sonho!). Serviço correcto, atento, disponível.

No menú, sobressaem dois primeiros prémios de um não identificado Concurso Regional de Gastronomia: 

     - Bacalhau lascado com chícharos, crocante de broa de milho e poejo;
     - Pudim de Maçã, canela, mel de rosmaninho e eucalipto.

Há ainda 4 "Petiscos Regionais" (Moelinhas de Frango, Morcela de Arroz na grelha, Pasta de Atum (???) com queijo fresco e Salada de Polvo em vinagrete); 5 "Sopas e Entradas" (Sopa de Feijão Vermelho com couve e pernil de porco; Creme de Espargos com galinha do campo; Farinheira, tâmaras e cogumelos em cama de batata palha; Crocante de Queijo Cabra, com doce de abóbora e maçã; Salada Mista de presunto e rúcola, frutos secos, trufas e molho cocktail); 2 Pratos Vegetarianos (Salteado de Legumes e crepe frito sobre cama de trigo e feijão vermelho com aroma de tomilho; Crocante de Espinafres com arroz de frutos secos, abóbora e pesto); 4 Pratos de Peixe (Dourada no sal flamejada com aguardente velha e legumes cozidos; Salmão com amêndoa e alcaparras, vol-au-vent de pontinha gratinada e brócolos; Bacalhau lascado com chicharos, crocante de broa de milho e poejo; Lagarada de Polvo com azeite da primeira pressão, batata a murro e grelos salteados); 5 Pratos de Carne (Cabrito sem osso assado com migas de grelos; Bochechas de porco coradas em óleo de palma com batata-doce assada e molho de vinho tinto; Lombo e Novilho grelhado com migas de brócolos; Medalhões de Javali com puré de castanhas, molho de cogumelos e salada de tomate; Bife à Portuguesa). Nos doces, para além do já citado pudim de maçã, um 
Trio de Chocolate com molho de menta e doçaria diversa.

Como entrada, escolhemos a Farinheira. Sábia combinação, com o enchido a portar-se à altura, o peso da gordura contrabalançado pelo doce da tâmara. Os cogumelos, no ponto, adicionam substância, ainda que talvez fosse mais natural o recurso a uma espécie nacional, em vez da corriqueira variante de Paris - adicionaria certamente um sabor extra (ah, a ciência combinatória!) para além da vertente publicitária de mais um produto nacional. O que me pareceu totalmente inaceitável (num restaurante de esquina com pratos económicos ainda vá... mas aqui?) foi o recurso à batata de pacote para a cama do enchido. A batata palha também se faz na cozinha - ainda para mais nesta cozinha - não são precisas produções industriais...

Batata de Pacote? Até a mão se me estremeceu
O Bacalhau foi o prato de peixe escolhido. Os chícharos, tantas vezes referenciados, ainda não provados, comprovaram a fama de originalidade no sabor e na textura. A meio caminho entre o tremoço e o feijão, são bons de trincar, desafiam. O prato em si, começou por ser uma desilusão: sequíssimo, a acusar permanência em excesso no forno, situação parcialmente reparada com a adição de azeite aquecido. Por onde andava a equipa na cozinha? A broa, elemento evocador, seria um bom acompanhante não estivera desagradavelmente  endurecida pelo calor. Em conclusão, este seria um prato trivial, longe de um "1º Prémio", não fora a presença dos chícharos.

Bacalhau lascado: só os chícharos o salvaram do esquecimento
Na carne, elegeu-se o Cabrito. Belo sabor, belíssima composição das migas - feijão frade, broa, arroz e grelos! A carne, desfiada, de boa cozedura, tenríssima... sofrendo, no entanto, ainda que parcialmente, do mesmo problema de secura do bacalhau. 

Cabrito lascado com migas
Os dois pratos foram acompanhados por um escorreito Casa de Santar (recomendação da casa para o cabrito) que serviu de bom acompanhante.

As sobremesas, retiradas do buffet, oscilaram entre o trivial - o bolo de bolacha - e o muito bom - a encharcada de ovos e o quindim de coco.

Encharcada e quindim - a registar
Concluindo: atendendo ao preço (45€ por pessoa...) e à localização, merecia-se muito melhor. Ainda que alguns dos pormenores tivessem ficado na memória...

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