terça-feira, 10 de agosto de 2010

Restaulante Clan Des Tin

Com estas normas, regras, decretos, códigos, posturas não temos hipóteses.

Se a União fosse hermeticamente fechada às importações; se os nossos clientes fossem obrigados à ponta de míssil a continuar nossos clientes; se os segredos fossem invioláveis e continuassem a ser nossos - até poderíamos ter uma hipótese (foi assim durante muito tempo, não foi?). Agora, nesta hiper-mega-super-globalização... Nada.

Ainda por cima somos tomados desta inércia, desta calma olímpica, como se tivéssemos todo o tempo do mundo - cada decisão, cada licenciamento, cada autorização, leva várias estações do ano e depende de todos os factores que podem afectar o humor do decisor e da sua capacidade de interpretação das milhentas leis que são aplicáveis a cada caso.

Por exemplo, abrir um restaurante é uma aventura. São os projectos; as licenças; os fornecedores; os empreiteiros; os empregados...

E também nos restaurantes, a globalização está entre nós. Duvidam? Eu não. Também nos restaurantes a concorrência começa a ser desleal, entre um ocidental compelido a cumprir com tudo e outros povos habituados a fazer tudo. Para complicar, o mês cada vez está mais comprido e o preço é um factor que cada vez mais se sobrepõe à qualidade.

Algures na Mouraria existe um clan des tin restaurante chinês. Integrado na equipa de gourmets do blog Viver Lisboa visitei-o há pouco tempo e pude comprovar que a ausência de licenciamento e a presença de uma clientela fidelizada não são coisas incompatíveis.

Começamos pelo local. Fosse o dono português eu diria que estamos perante uma provocação bem-humorada à CML. Como não é, chamo-lhe um curioso sinal dos tempos: num edifício objecto de recuperação com dinheiros públicos, destinado a habitação, num - se não espaçoso pelo menos pluri-divisionado - apartamento, instala-se um restaurante.

No patamar, dois rostos inexpressivos, não sei se segurança familiar se amigos da casa. Do corredor, avistam-se os vários quartos/salas de refeição. A sala maior, com três mesas e cadeiras desirmanadas, um plasma desactivado e uma ventoinha volante parece um local seguro. Curiosamente, os clientes são todos ocidentais.

E a comida?

A comida não se afasta do experimentado em qualquer - ou na maioria - dos seus conterrâneos instalados na capital: saborosa quanto baste (muito por via de uma generosa aplicação de monoglutamato de sódio (este artigo da Wiki é claramente patrocionado pelos fabricantes)), nalguns pratos, surpreendentemente saborosa.

Tofu com vegetais
Gyoza: não chegam perto dos do Paulo Morais, mas para o local são uma boa experiência
(por causa dos pauzinhos...) Trivial pursuit 
O preço? Uma agradável surpresa (também, sem impostos nem contribuições para pagar...)

(Publicado originalmente ontem, no Viver Lisboa)

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