segunda-feira, 22 de novembro de 2010

E se nos deixássemos de frescuras?

... Não fui eu que pensei isto (ainda que não me desagrade a ideia, principalmente quando passo um bom par de horas à volta de uma mesa bem recheada num tasco recém-descoberto) antes os fundadores de uma coisa chamada Le Fooding.

Chamo-lhe "coisa" porque o que começou como uma saudável reacção à ditadura de gosto que o Guia Michelin impõe, desde há anos, na restauração francesa e mundial, é agora uma máquina oleada a caminho da institucionalização, ainda que ainda se mantenha alternativa porque "representante" de uma tendência  ainda minoritária.

Bom. Le Fooding (junção de food mais feeling) não só defende, na avaliação de um restaurante, a importância absoluta do que se come - advoga que é a única coisa importante. E faz questão de marcar bem esta posição: desde o primeiro dia, os seus guias de restaurantes ignoram alguns dos "três estrelas Michelin" a favor de locais de instalação e preços mais baratos.

Restaurante Le Chateaubriant, Paris
o restaurante emblema Le Fooding
(fonte: The Independent)
Existe assim uma posição política bem marcada: a defesa de uma maior democratização de acesso à "alta" gastronomia (considerar que os restaurantes escolhidos são acessíveis a toda a gente é um ligeiro exagero...). Boa comida, saborosa, a preços que se situam, maioritariamente, entre os 16 e os 35 euros.

O fooding é, assim, um movimento de abertura dos grandes sabores às "massas". Mas resistirá a grande cozinha às mesmas? Dito de outra maneira: não será a generalização o cavalo de Tróia da vulgarização?

Ao que não resistiu foi à etiqueta trendy que alternativos, intelectuais e esquerdistas bem-pensantes lhe colaram e a que aderiram. Do mesmo modo que, de anti-Michelin, aparece cada vez mais - com o seu guia, classificações, festas de lançamento, internacionalização - como o neo-Michelin.

Restaurante Rino, Paris
FOODING 2010 du Meilleur Bistrot d’Auteur (fonte: site do restaurante)
Feitas as contas, no entanto, vale a pena lê-lo e ir seguindo a sua página. Não nos esqueçamos no entanto que, tanto este como o livrinho vermelho, são apenas indicadores. É a nossa cabeça (que coordena os nossos bem-amados sentidos) que decide.

Por isso ide. Ide e pensai por vós.

Restaurante Aux Deux Amis
FOODING 2010 du Meilleur Petit Luxe (fonte: The Independent)

(Nota curiosa: Os prémios 2010 reconheceram como "Meilleur Décor", o restaurante/bistro de Iñaki Aizpitarte, Le Dauphin, projecto de Rem "Casa da Música" Koolhaas e Clément Blanchet. Ora, segundo este site, e ainda este video, o restaurante ainda está em obras. Louve-se a capacidade de leitura de projectos do júri mas relembre-se que foi por gracinhas destas que a reputação do Michelin foi decrescendo...)

(Nota curiosa 2: Depois de escrever o que está acima, descobri este comentário ao movimento e seus restaurantes de eleição. Vale a pena ler.)

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