sábado, 11 de dezembro de 2010

Culinária de Lisboa #15 - Peixinhos da Horta

Querida Mô,

Estive ontem em casa de uns amigos, num daqueles jantares socializantes em que se procura estabelecer laços mais particulares com um ou dois convidados "de cerimónia", usando a táctica da convivialidade e do espírito descontraído para disfarçar o provável embaraço que é juntar à volta da mesa desconhecidos entre si.

Originalidade das originalidades, o jantar foi feito, não pela dona de casa (ou pelo dono da casa, moda por cá cada vez mais na moda) muito menos pela cozinheira/empregada interna/mulher a dias (assim temos vindo a decair na escala da hierarquia doméstica e a subir na equalização social), antes por um cozinheiro que anda nas bocas do mundo. Seria de esperar que as mãos e a imaginação desse artista reputado iriam produzir um clássico menu - e por clássico não me refiro a pantagruélicas coisas vindas do tempo dos Vencidos da Vida, antes algo devidamente testado e voltado a testar em dezenas de anos de jantares sociais. Não, nada disso. Esse artista, esse Medina que eu julgava fosse, revelou-se afinal um Manet, um Degas, influenciado, apaixonado - subvertido! - ao gosto oriental e ei-lo a produzir dezenas de miniaturas de peixe cru - em vez de um honesto escabeche -, de rodelas de peixe envolto em arroz - onde estavam as morcelas de arroz? - e, estrelas da noite, uma companhia de diversos vegetais fritos num polme levíssimo, disposto em redor de um molho adocicado.

Ah, quanto aquela gente gabou as exóticas iguarias! Quanto gabaram os benefícios de uma cozinha saudável, sem carne nem molhos excessivos, a beleza das apresentações, a originalidade dos conceitos orientais!

Nunca comeram peixinhos da horta à sombra de um caramanchão, com um jarro de vinho fresco a  tiracolo e um pão saloio estaladiço e ainda morno, é o que é.


PEIXINHOS DA HORTA


Afinal também há chefs fashion que gostam da tradição nacional
"Portuguese deep-fried green beans" (e ainda dizem que em inglês as expressões são mais pequenas!)
David Leite (ver aqui)



250 gr feijão verde; 2 ovos; 125 gr farinha; 2 dl água; 2 colheres sopa manteiga; sal e pimenta

Cozem-se as vagens de feijão verde em água e sal depois de se lhes tirarem as pontas e os fios.

Polme: Batem-se os ovos, junta-se a farinha dissolvida na água fria, a manteiga derretida, sal e pimenta.

Passa-se o feijão cortado em pedaços no polme e frita-se em azeite bem quente até que a massa fique loura.

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