segunda-feira, 25 de julho de 2011

Azenhas do Mar: bela vista, cozinha desleixada

É regar e pôr ao luar! Assim se anunciavam em Lisboa os manjericos, essa desconhecida variante em tom menor do manjericão.

Quantos exemplos conhecemos de restaurantes tratados como manjericos, com os respectivos proprietários a entender que lhes basta uma carinha laroca - a decoração, a envolvente, o nome, a relações públicas... - para lhes garantir longa vida& lucros em concordância?

Este Sábado apeteceu-me festejar em frente ao mar. Ver o lento mergulho do Sol acompanhado das subtis mudanças da luz dourado-rosa-violeta-azul. E, no ritmo, degustar um bom produto marinho, sabiamente preparado, do modo como só as populações ibero-atlânticas parecem saber fazer. Lembrei-me do restaurante das piscinas das Azenhas do Mar e lá fui.


Espaço agradável, sóbrio, evocativo dos restaurantes efémeros de praia notando-se, todavia, cabeça pensante e não obra do acaso. Serviço atencioso, sem pretenciosismos (nem muita ciência mas aquele não me parece ser um local  que busque a celebridade das estrelas Mich).

Pôr-do-Sol, uma vista desafogada, bom ambiente - parecia ter acertado.


A desilusão começou com a oferta de peixe - robalos, douradas, linguados. Só? Percebes, ostras (estas, se não me falha a memória)... Só? A isto se resumia o conteúdo do expositor frigorífico colocado junto à entrada e nada mais que isto me foi ofertado como possibilidade de escolha. Fresquíssimos na aparência, de origem marítima mas... repito, mais uma vez, só?

Para entreter, uns percebes. Bons.
Não havendo consenso para um deles (robalos e douradas enormes para só um, linguado sem freguês) foram as escolhas direccionadas para uma massada de peixe, um polvo à lagareiro e um arroz de polvo.

Quase uma hora depois, lá chegaram.

A massada, apurada, cheirosa, correcta. Única objecção em relação à incongruência do tacho: estamos num restaurante ou numa tasca? Decidam-se - ou deixam os rodriguinhos (e os preços) ou largam o tacho e arranjam terrinas. Sol na eira e chuva no nabal...



O polvo foi uma absoluta decepção, a ponto de ter ficado quase todo no prato. Mal cozinhado, sem sal, couve rija a denotar retirada antes de tempo e, em contrapartida, as batatas assadas feitas puré embrulhado na casca enegrecida. Que desastre. Suprema ironia, o cuidado posto na montagem e decoração do prato. Pergunto-me se o cozinheiro decorador tem um preparador péssimo ou se é o decorador que se esqueceu de tirar um curso de cozinha...


Quem diria que ao lado desta pequena féerie à borda do prato, repousava a pior confecção de polvo que me foi dada a pagar?
De mais nada tirei fotografias, de irritado que fiquei. Não é possível que um cozinheiro subscreva esta preparação e não é aceitável que quem a tenha feito se intitule ou profissione como cozinheiro...

O arroz de polvo esse, estava bem temperado, com o senão do polvo também estar emborrachado, sinal que a ciência de o cozinhar é totalmente ignorada por aquelas bandas.

Conclusão: arrisque-se se o objectivo fôr refeicionar com uma bela vista. Sendo a comida secundária, coma-se o que apetecer. Em caso contrário, opte-se pelos grelhados ou pelos bivalves, não esquecendo de relembrar à cozinha que, sendo português, está habituado a ter sal na comida.

Eu? Duvido que volte. Apesar da vista. Mas o que não faltam é restaurantes na costa.

Apreciação: Cozinha - 2,83 ; Global - 12,56

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