quinta-feira, 11 de agosto de 2011

A tradição às vezes não é o que era

Por vezes descobrir os mais interessantes locais restaurativos duma zona revela-se tarefa difícil. Ou pela parcimónia de referências de fonte confiável ou pelo excesso de nomes sem referência nenhuma, encontrar um bom porto onde se dê o dinheiro e o tempo por bem empregues é um jogo que muitas vezes se perde. No capítulo das fontes, cada vez mais me deparo com a confirmação da velha máxima futebolística "o que hoje é verdade amanhã pode não ser". O que se pode concluir quando a triste realidade fica a milhas dos encómios que motivaram a visita? Que os ditos foram encomendados? Que os padrões do escriba precisam urgentemente de revisão? Que os mesmos são requentados, tendo sofrido um processo de copy-paste para a nova edição do guia? No mínimo que toda a equipa estava, em uníssono, num dia feriado, tendo-se esquecido de ficar em casa.

As razões de tal dessintonia variarão em cada caso mas há sinais que não enganam e permitem distinguir um dia mau de um mau guia: pratos do dia corriqueiros, loiça e talheres a acusar excessivo uso, salas pouco preenchidas, desmazelo no serviço, serão sinais de curva descendente e de antiguidade na crítica. Outras situações poderão ser... azar do comensal.

A visita ao restaurante Os Antónios em Nelas resultou num dos casos acima citados. Em recente passeio  pela zona, foi um dos eleitos para descoberta. Razões várias, para além de uma referência de amigos experimentados, com uma boa recordação de uns anos antes, as múltiplas presenças e referências positivas na literatura da especialidade.

Boa situação (ainda que a sua descoberta tenha sido ligeiramente dificultada pela ausência de referências nas cercanias), um edifício de construção tradicional, facilidade de estacionamento (uma 4ª feira, oito horas da noite).


Interior com arquitectura que aproveita a linguagem coeva, com materiais tradicionais (paredes de alvenaria de pedra à vista, travejamento do tecto em madeira), lareira e decoração "típica". Cadeiras de espaldar alto mesas com toalha de pano amarela ou vermelha.

Empregado único, atento (mas as poucas mesas ocupadas não lhe causaram grandes problemas).

Impressão inicial positiva, que se comprovou com o bom sabor da alheira grelhada degustada como entrada. Gosto acentuado de fumeiro, equilibrada, um bom começo.


Infelizmente a boa impressão ficou por aí. "Especialidades" muito pouco especiais (cataplana de marisco (na Beira Alta?), bacalhau com broa, polvo frito com migas, feijoada de polvo, bife na pedra, entrecosto em vinha de alhos, cabrito assado) para quem vem em busca do local ou do diferente. Sugestões do dia quase todas pouco inspiradas, do salmão na grelha ao arroz de tamboril, da picanha na pedra às plumas de porco preto. Mais apelativos, a cabidela de galinha do campo e o cabrito à padeiro foram preteridos por um Coelhinho de Porco com Molho Pimenta


e uma Aba à Lafões.


Se o "coelhinho" se mostrou um pouco renitente ao dente numa combinação mais do que trivial com batatas fritas e o montinho de arroz e um inenarrável e inaceitável (em receitas de foro regional português) molho de natas, a aba foi uma desilusão parcial. Rija, a indiciar maioridade ou falta de ciência de forno muito pouco emblemática da celebrizada Vitela no forno à moda de Lafões. Em contrapartida, batatas e couve bem cozinhadas e temperos seguros.

Que dizer destes Antónios? Que não desgostaria de os ter aqui à minha beira, como restaurante de bairro. Como referência, local de romaria, lamento, não me convenceram.

Classificação: Cozinha - 3.33 ; Global - 14.07

2 comentários:

  1. Viva Caro Pedro,

    quando andar por essas bandas tente a 13 Km de Nelas a recuperada aldeia de Póvoa Dão (Silgueiros), onde encontra o Restaurante Póvoa Dão. Já não vou lá há uns tempos, mas está na minha lista de portos seguros. Bom bacalhau e cabrito.
    Outra (minha) referência na região é O Martelo em Falorca.

    Cumprimentos,

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  2. Olá Jorge, obrigado pelas sugestões. Fui a Póvoa Dão mas a meio da tarde e, no que seguramente foi o dia mais quente do século - apesar do ar condicionado do carro, chegámos completamente desidratados e só tivemos forças para nos arrastarmos até ao primeiro café que encontrámos (penso que não era o restaurante) onde quase que acabámos com o stock de águas. A visita ficou assim para a próxima mas já está rotulada como obrigatória, tanto que tive mais indicações como a sua.
    Quanto ao Martelo, devidamente registado.

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