segunda-feira, 18 de junho de 2012

Como se diz street food em cantonês?

Vai-se a medo (gosto desta expressão: como se entrássemos no mar numa praia desconhecida, pontuada com rochas de lava moldadas pelo tempo, avançando lentamente o pé, à procura de uma pedra desconhecida; sem medo mas a medo) naquele mundo de caracteres de que só reconhecemos a forma e nada do significado, de caras e modos cada vez, pelo hábito, menos estranhos mas ainda estrangeiros, de uma actividade novaiorquemlisboa também ela nada própria de país alongado ao Sol e à tentação da praia.

Vai-se a medo porque ficamos nós os estrangeiros, mesmo na nossa geografia, no nosso Sol, na nossa rotina enquadrada de passos em volta. É bom sermos estrangeiros? É estranho. Baralha-nos as certezas.


Lisboa, Lisboa mas não histórica. Antigos galpões industriais que a maioria desconhece e os restantes julgam fechados ou moribundos pela crise a fervilhar de actividade, de cri-actividade. Julgar-se-ia que aos herdeiros de uma civilização de origens tão perdidas no passado estaria reservada a suprema arte da contemplação e do abandono do mundo material - que nada. Formigas neste carreiro ao contrário de todos os outros.

A cozinha é uma roulotte (como é que raio se escreve isto em português pós-acordo?), em laboração modernista: o produto é manufacturado e preparado à frente do freguês, sem pruridos nem segredos. Pede-se, aponta-se, abrem-se clareiras no mato da impossibilidade linguística, num desbravar mútuo de significâncias.



Genuíno mais genuíno não há, fresco mais fresco também não.



Sabe como a última refeição do mundo. Ou a primeira, porque os gostos são puros, as texturas intocadas e os odores intocados.



É o Blade Runner sem a chuva ou o Bourdain sem a equipa de televisão atrás. É desejar manter a ilha intocada e sem evolução, crescimento ou multiplicação.



Fica a partilha.

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